Polêmica: Padre de Monte Santo desmata Santuário da Santa Cruz para Construção de Estrada e Causa Revolta na População e Fiéis da Igreja

O Monte do Santuário da Santa Cruz é tombado pelo Patrimônio Histórico e tem sido preservado há mais de 200 anos, inclusive foram barrados ao longo dos anos muitas tentativas de desfiguração desse patrimônio, até que a ação irresponsável do padre, que pode abrir precedentes e dar início à destruição do maior bem do município: O nosso Santuário e a tradicional romaria de Todos os Santos.

Por: Redação 1
31, jul. de 2023 às 06:55 • Atualz. 09, ago. de 2023 às 04:18
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Polêmica: Padre de Monte Santo desmata Santuário da Santa Cruz para Construção de Estrada e Causa Revolta na População e Fiéis da Igreja

A população de Monte Santo foi pega de surpresa e ficou revoltada ao descobrir que alguém havia construído uma enorme estrada para “Subir o Sagrado Santuário da Santa Cruz de Carro”. Tudo começou quando um vídeo circulou em grupos de WhatsApp, onde uma pessoa descobriu que alguém havia construído uma estrada por trás do Santuário da Santa Cruz e então resolveu subir o monte com seu veículo Fiat Toro, ostentando o feito com os seus seguidores: “Este é o carro ideal para você subir a Santa Cruz, com tração nas 4 rodas” dizia o autor do vídeo. Isso acendeu um estopim e foi suficiente para desencadear uma onda de revolta de historiadores, artistas, divulgadores culturais, ambientalistas e principalmente da população e fiéis católicos do Município de Monte Santo.

Sexta-Feira-da-Paixão 1930 foto: MeusSertoes )


O Santuário da Serra da Santa Cruz foi construída em 1785, no final do Século XVIII, pelo Capuchinho Frei Apolônio de Todi que, ao fazer uma missão por Monte Santo, avistou a Serra do Piquaraçá e, impressionado com a semelhança com o calvário de Jerusalém, teve uma visão e resolveu, então, construir uma Via Sacra de 3 km, toda de pedra, pela encosta do monte, contendo 21 capelas e uma igreja no alto para simbolizar o Calvário de Cristo. A obra foi construída com a ajuda dos fiéis e de moradores de povoados próximos, transformando, desde então, a cidade de Monte Santo em um dos principais centros de romaria do Nordeste baiano, para onde milhares de féis se dirigem todos os anos, para “pagar” ou fazer suas promessas, também para agradecer as graças alcançadas através de milagres atribuídos aos santos católicos. A tradicional romaria já chegou a atrair mais de 200 mil pessoas durante a tradicional Festa de Todos os Santos, que ocorre em 31 de outubro, anualmente, mas por falta de investimentos públicos no Turismo e um melhor suporte para atender aos turistas e romeiros, o movimento vem caído ano a ano. 

( Deus e o Diabo na Terra do Sol Glauber Rocha - Minissérie O Pagador de Promessa Rede Globo )

Inegável a beleza paisagística do Monte, o que fez atrair o renomado cineasta baiano Gláuber Rocha, que filmou em Monte Santo o premiado filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol" nos anos 1980. A obra é considerada, até hoje, um dos melhores filmes da dramaturgia brasileira. A cidade também foi cenário para a famosa minissérie da Rede Globo "O Pagador de Promessas".


(Romaria Todos os Santos, e Igreja Matriz, Foto MonteSanto.net )


A Serra da Santa Cruz e a tradição religiosa se manteve preservada por mais de 200 anos até que uma ação irresponsável parece ameaçar este legado histórico do nosso município. Após a repercussão do vídeo, várias pessoas resolveram se manifestar nas redes sociais e o primeiro que se posicionou sobre o caso foi o escritor e artista plástico Ivan Santana, que disse: "MERCENÁRIOS DA FÉ", "A quem interessa uma intervenção descabida, criminosa, em um Santuário construído em 1785, e TOMBADO? O crime, além de ser contra um patrimônio histórico, se caracteriza como um crime ambiental, ecológico, de uma área protegida por Lei Federal. Vocês desmataram, deslocaram pedras, descaracterizaram, construindo uma estrada para carros e motos que dão acesso a um lugar mitificado pelo povo como um espaço sagrado, de devoção e fé. Não serão os devotos que irão subir por essa estrada horrorosa, de péssimo gosto. Porque devoto, romeiro, faz o caminho tradicional, o caminho da fé, o que faz sentido no cumprimento da sua promessa”, "A intervenção CRIMINOSA no Santuário interessa a capitalização da fé. A fé como mercadoria é uma prática recorrente das igrejas. Mas não queiram capitalizar aquilo que não lhes pertence" afirmou ele.


( Estrada aberta na Santa Cruz, Foto: Reprodução facebook )

Confira o vídeo: 


O arquiteto natural de Monte Santo Timóteo Ferreira, especialista em sítios históricos, também comentou, "mercantilizar o turismo religioso de forma absurda", com a abertura da polêmica estrada e posterior cobrança de pedágio para o acesso de carros e caminhonetes 4x4. "Ora, é como diz em Salvador, na Festa do Bonfim: quem tem fé vai a pé" afirmou Timóteo.



( Artista
Ivan Santanna, Escritor José Gonçalves e arquiteto Timóteo Ferreira)

O escritor José Gonçalves também comentou "Está na hora de dar um basta a essa lógica que permite que cada padre que chega à paróquia se dê o direito de fazer (ou desfazer) o que bem entende"

A ação se mantinha um mistério até que neste sábado o padre Nelson Nicolau, que é o responsável pela Paróquia do Sagrado Coração de Jesus em Monte Santo, se pronunciou. Em nota o padre afirmou: “O plano de construir uma estrada alternativa na Serra da Santa Cruz, já vinha sendo pensado há dois anos por um grupo da Comunidade Católica de Monte Santo". Afirmou, ainda, que a obra foi realizada "pensando em dar a alegria aos irmãos e às irmãs romeiros com deficiência física, de chegar ao Santuário para cumprir suas promessas" O padre ainda admitiu que "em vista deste bem maior, foi necessário sacrificar um pouco a natureza, mesmo que um tanto contrariados por ter que mexer num patrimônio histórico" e ainda assegurou que a área desmatada será em breve reflorestada. A nota ainda afirma que a obra vai prosseguir com a construção de um portão no pé da serra. O acesso será apenas para três "carros credenciados".

O padre Nelson Nicolau é muito querido na comunidade católica, inclusive pelo brilhante trabalho que realizou na comunidade de Cansanção e por isso todos ficaram surpresos quando ele assumiu a responsabilidade pela obra, mas ainda não se sabe se a construção da estrada foi decisão tomada de forma deliberada pelo próprio padre ou se foi uma ordem “de lá de cima” da Diocese de Senhor do Bonfim que comanda a paróquia de Monte Santo, também não se sabe se houve a participação de dinheiro público do município para a construção da obra ou, se foram usadas as doações do Dízimo dos próprios fiéis da igreja para a contratação da retro escavadeira que devastou o local, porém, segundo informações, a estrada já está sendo construída de forma secreta há mais de um ano e teria custado aproximadamente 20 mil reais. Segundo o próprio padre afirmou em nota, “o dinheiro para a obra foi emprestado generosamente por uma pessoa de fé e será pago em 15 parcelas mensais”.

A ação causou uma revolta na população de Monte Santo, inclusive entre membros da própria Irmandade que foram contra a ação, mas mesmo diante a discórdia, o padre insistiu em realizar a obra sem consultar a opinião da população e dos fiéis. A estrada foi construída de forma secreta e todos só ficaram sabendo depois que algum estranho descobriu e resolveu subir com seu veículo no “Monte Santo”. Segundo pesquisas realizadas, 82% da população é contra e apenas 18% a favor da construção da estrada e entre as pessoas que concordam, há um consenso que a entrada deve ter um portão e ser controlada para a subida apenas de idosos e deficientes que não podem subir o monte e mesmo que a obra não seja embargada, não deve ser criado nenhum tipo de comércio ou privilégio a este novo acesso, muito menos ser cobrado nenhum valor pelo acesso ao Monte Sangrado que é um espaço público e de todos os monte-santenses.

 ( Monte Santo.net - Cidade de Monte Santo e Santuário da Santa Cruz, Foto Drone )
 
Mesmo que tenha “boas intenções”, vale lembrar o ditado que diz: “De boas intensões...”. o fato é que o padre errou feio em realizar a obra sem consultar a população e os fiéis, que não tiveram ao menos o direito de opinar e decidir se a estrada deveria ou não ser construída. Mesmo proporcionando acessibilidade a idosos e deficientes e até se for usada pelos padres que estão cansados de fazer o "sacrifício" de subir o monte para realizar suas missas, a estrada irá na prática ameaçar a preservação do Monte, podendo até causar deslizamento de pedras e barreiras, poderá promover a população do entorno da estrada com Cháracas, mansões, comércios e até barracos no morro que poderão ser construídas após o  movimento constante de pessoas e a natural valorização dos terrenos atrás da Santa Cruz. Consequentemente, quebrará a antiga tradição religiosa da cidade, isso porque o sacrifício da subida da Santa Cruz faz parte da história e do patrimônio do santuário e é o que tem garantido sua preservação durante mais de 200 anos, um legado que nem a destruição das imagens em 2003 e um incêndio da igreja matriz ocorrido em 2019 foi suficiente para apagar da nossa história, por isso o padre juntamente com a diocese de bonfim deverão arcar com todos os ônus que esta decisão venha a causar e até um possível embargo da obra pelo IPHAN, e caso comprovado o crime ambiental até o pagamento de multas que podem chegar a casa do milhão, mesmo porque não se sabe se os órgãos de preservação foram consultados previamente e tenham autorizado uma obra desta magnitude.

 ( Romária de Todos os Santos - Foto Daniel Dantas DanEventos.com.br )

A Serra da Santa Cruz é tombada pelo patrimônio histórico desde 1982 e é estritamente proibido fazer qualquer tipo de modificação sem a autorização do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), muito menos o desmatamento gigantesco feito para a criação desta estrada. Em 2019 o IPHAN chegou a embargar a construção de um hotel na praça Monsenhor Berenguer porque ele simplesmente "Atrapalhava a vista do Monte da Santa Cruz", mas por incrível que pareça até o momento o IPHAN continua calado e não se pronunciou oficialmente sobre o que poderá ser um dos maiores crimes ambientais e culturais da história de Monte Santo.


( Santuário da Santa Cruz, Foto  Monte Santo Histórico e Serra da Santa Cruz Preservada )

Enquanto a população se desespera com a possibilidade da destruição eminente do patrimônio cultural e histórico de todos os monte-santenses, ainda mais grave é a omissão dos órgãos competentes como IPHAN, Ministério Público e principalmente dos nossos governantes que estão calados diante de um fato tão grave. Até o momento a Prefeita de Monte Santo Silvânia Matos, o Secretário de Cultura e de Turismo Marcos Santos, o deputado estadual mais votado da cidade Laerte do Vando, bem como os 15 Vereadores estão de "Boca Calada" diante do fato que movimenta as redes sociais e une a maioria da população de 82% que se manifestaram contrários à ação danosa ao nosso santuário.

Será que farão como Pôncio Pilatos? Vão “lavar as mãos”, e não vão intervir para salvar nossa Sagrada Santa Cruz de sua destruição? Enquanto ninguém toma uma atitude a população se revolta com o silêncio deles que chega a ser ensurdecedor.

Fonte: MonteSanto.net
Fotos e vídeos: Ivan Santanna, Serra da Santa Cruz Preservada e Monte Santo Histórico


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